Quarta, 17 Abril 2013 18:28

Debate FEA-RP do Futuro: Professor Dutra fala da importância do REA

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O professor José Dutra de Oliveira Neto, do Departamento de Contabilidade, fala nesta semana sobre o futuro do ensino e as ferramentas para a Faculdade continuar crescendo. "Acredito que a FEA-RP poderia investir em um REA [Recurso Educacional Aberto] com sabor local, onde ofereceríamos conhecimentos que atendessem as necessidades mais importantes dos brasileiros", diz ele, que é coordenador do Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária NPT (Núcleo para Desenvolvimento de Tecnologias e Ambientes Educacionais).

 

Dutra é também o coordenador de uma equipe com 53 pesquisadores de 25 países que fará o diagnóstico do uso dos Recursos Educacionais Abertos. A pesquisa deve iniciar até o final de 2013 e terá duração de dois anos com um orçamento superior a U$ 100 mil.

 

Confira a entrevista na íntegra:
No que se refere à didática, o que você acredita que irá mudar nos próximos 20 anos?
Se considerarmos a abordagem instrumental da didática, podemos considerar poucas mudanças, já que continuamos os mesmos procedimentos e técnicas para promover o ensino. O que muda é a forma de entrega com a utilização intensiva das tecnologias. Isto requer um treinamento muito grande por parte dos professores. As grandes teorias sob as quais a didática está amparada hoje continuam as mesmas, com poucas exceções. Não acredito que deveríamos nos concentrar em apenas uma teoria ou modelo e sim aproveitar as boas características de cada teoria/modelo. Por que não poderíamos ter reforço positivo advindo da teoria comportamentalista e encorajar a interação entre alunos da teoria sócio-construtivista?

 

Quais os impactos que a tecnologia (EAD, capacidade de processamento, comunicação) trará ao ensino e à pesquisa?
A tecnologia por si só não tem relação direta com diversas variáveis educacionais como o aprendizado. A literatura comprova esta afirmação e propõe que o modelo pedagógico e as estratégias educacionais possam determinar o melhor uso das tecnologias. Isto significa que a tecnologia é apenas uma ferramenta para implementar uma estratégia educacional amparada por uma base conceitual pedagógica. A tecnologia muda com muita frequência e precisamos concentrar nas estratégias e modelos pedagógicos. Com esta abordagem, podemos implementar modelos de sucesso independente da tecnologia existente na época. Não podemos negar que a tecnologia pode ajudar muito no processo de comunicação para esta nova geração Y e Z, mas não deve ser o foco. Na FEA-RP já há uma grande capacidade de armazenamento e processamento, mas precisamos avançar para disponibilizar um ambiente online para todas as disciplinas. Isto facilita a comunicação entre aluno-aluno, aluno-professor e aluno-conteúdo. Novas ferramentas analíticas serão muito utilizadas em sala de aula para processar este volume exponencial de dados.

 

O que você avalia que irá mudar no perfil dos cursos, alunos e docentes dos próximos 20 anos?
O papel dos atores neste processo de ensino e aprendizagem tem mudado muito. O centro de gravidade está deslocando para o aluno. O professor outrora detentor do conhecimento deverá ajudar o aluno aprender a aprender. As aulas tipo "lecture" estão com os dias contados e deverão ser cada vez mais participativas e colaborativas. As aulas devem mesclar teoria e práticas profissionais. Hoje utilizo um modelo de disciplina que emprega três tipos de atividades: de absorção, práticas e de conexão com a realidade. O aluno deve ser um aprendiz contínuo em sua vida pessoal e profissional.

 

Em que área deve ser concentrados esforços para aproximar a FEA-RP de uma escola de primeira linha em caráter global?
As escolas de primeira linha como Harvard e MIT estão posicionadas como grandes centros disseminadores do conhecimento no mundo. Cientes deste papel, elas procuram formas de divulgar suas ideias por meio de REA (Recursos Educacionais Abertos). Inicialmente propuseram uma forma gratuita e agora estão cobrando pela certificação. Sua utilidade no mundo em desenvolvimento é limitada devido a diversos fatores como língua e capacitação. O que eu acredito que a FEA-RP poderia investir seria um REA com sabor local onde ofereceríamos conhecimentos que atendessem as necessidades mais importantes dos brasileiros. Pensar global e agir localmente. Estes cursos teriam material em português, além de vídeos com áudio em português e legenda em outras línguas. O REA, no entanto, teria uma concepção original a partir de sua definição, onde deve existir a possibilidade de rever, reusar, remixar e redistribuir de forma aberta (4R) fato este que não ocorre nos modelos americanos.

 

Foto: Seção Técnica de Informática (STI)

José Dutra de Oliveira Neto

 

Na semana que vem, a professora do Departamento de Economia e presidente da Comissão de Graduação da FEA-RP, Maria Lúcia Lamounier, dará sua opinião sobre como deve ser a FEA-RP e o ensino no futuro.

Lido 8491 vezes Última modificação em Quarta, 17 Abril 2013 18:34