Quarta, 10 Abril 2013 18:06

FEA-RP do Futuro: Professor Reynaldo Fernandes destaca a importância da interação

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O professor Reynaldo Fernandes, do Departamento de Economia, é o entrevistado desta semana para falar sobre a FEA-RP do futuro. Ele já foi diretor geral da Escola de Administração Fazendária (ESAF) de Brasília e uma de suas áreas de pesquisa é Educação.

 

Na entrevista, ele fala que a interação entre aluno e professor é fundamental. "Esta interação na sala de aula ainda é predominante e os meios a distância ainda não superaram o ensino tradicional", diz.


Confira a entrevista na íntegra:


No que se refere à didática, o que você acredita que irá mudar nos próximos 20 anos?
É sempre difícil de prever. Na verdade, depende muito dos professores e existem também novas possibilidades dadas pela tecnologia. O impacto delas na sala de aula é ainda algo que a gente precisa esperar para ter uma noção. Acreditava-se em grandes revoluções, com essas novas tecnologias. Em princípio todos poderiam ter aulas com os melhores professores do país. Na verdade, isso não tem acontecido e a interação ainda é fundamental. Evidentemente que a tecnologia facilita questões do trabalho e da comunicação com o professor. Mas ainda a aula presencial tem sido padrão. Ou seja, os cursos presenciais são a maioria e acredito que o papel do professor é essencial. É possível melhorar algumas coisas via tecnologia. Nossos cursos da economia não são tão diferentes dos cursos dos meus professores. Coisas práticas, como a parte de Econometria e Economia para rodar no computador são muito mais fáceis. Foi uma grande expectativa de que a tecnologia poderia mudar, principalmente no ensino mais básico onde há dificuldade de professor, mas a interação aluno-professor na sala de aula ainda tem sido predominante e os meios a distância não tem superado o ensino tradicional. A tecnologia tem facilitado muito a comunicação, mas ela não tem substituído as aulas. Outras tecnologias de aula como existem nos Estados Unidos têm dificuldade institucional para implantação. Acho que tem que mudar a USP para esse tipo de possibilidade. Nas grandes universidades, os professores que receberam prêmios Nobel, dão aula para muita gente, já que não dá para colocar um prêmio Nobel para dar aula para 20 ou 30 alunos. E as turmas se dividem em professores assistentes, que fazem essa parte de exercício e tem essa relação mais direta. Isso necessitaria de uma revolução total no tipo de ensino que é dado e no tipo de contratação. Hoje a gente tem um professor em uma turma e isso é difícil de mudar, dada as regras da própria Universidade. E mudá-las é muito difícil porque a Universidade se move muito lentamente para mudanças desse tipo.

 

Quais os impactos que a tecnologia (EAD, capacidade de processamento, comunicação) trará ao ensino e à pesquisa?
Na pesquisa o ganho é muito mais perceptivo com relação à tecnologia. Hoje em dia se tornou mais fácil fazer pesquisa no Brasil do que há 15, 20 anos. Fora dos grandes centros, ter acesso era muito difícil, já que não se sabia o que estava sendo produzido. Agora, com a internet, você sabe exatamente o que cada um está fazendo em cada lugar do mundo. Então a parte de pesquisa bibliográfica está muito facilitada, coisa que era muito complicada. Mas fundamentalmente isso melhorou para todo mundo. Fazer pesquisa fora dos grandes centros, nos países subdesenvolvidos, a internet facilitou muito. Você pode mandar um e-mail, então não precisa mais pegar um avião para ir toda hora àquele local para ter esse contato. Antes, se você estava fora de um grande centro você não sabia o que estava acontecendo e hoje a distância foi encurtada e o resultado disso foi o aumento da possibilidade de pesquisas em países subdesenvolvidos.

 

O que você avalia que irá mudar no perfil dos cursos, alunos e docentes dos próximos 20 anos?
Fiquei em Brasília por cinco anos e meio e acho que a escola se expandiu muito, mas não sei se melhoramos a qualidade de nosso ensino. Quando a FEA-RP foi montada, rapidamente se tonou uma referência em ensino e acho que ela se mantém. Ou até mesmo teve uma leve queda por causa da expansão. As primeiras turmas já tinham o mesmo destaque que as de hoje têm. Não tenho visto um crescimento contínuo, algumas coisas melhoraram, mas não acho que o aluno hoje esteja mais preparado do que um aluno que foi formado nas primeiras turmas. O grande desafio da FEA-RP é a pós-graduação. Enquanto temos hoje cursos de graduação que estão em níveis dos melhores, o mesmo não ocorre na pós. Precisamos melhorar e isso deveria ser o foco da escola. A pós-graduação deveria avançar nos conceitos da Capes, e para isso deveria ser a grande prioridade em termos de saltos de qualidade. Estamos muito focados onde já somos razoavelmente bem.

 

Em que área deve ser concentrados esforços para aproximar a FEA-RP uma escola de primeira linha em caráter global?
Não se deve abandonar a graduação que é nosso carro-chefe, mas na pós-graduação a Universidade exige um nível que acho que ainda estamos aquém. É difícil, mas uma vez que os cursos foram lançados é preciso melhorá-los. Acho que a pós tirou um pouco o foco dos professores dos cursos de graduação, mas não teve o resultado esperado. Grande parte do desempenho depende dos alunos que você recebe e estes dependem de resultados passados, então competir com os cursos grandes, mais antigos, mais prestigiados pelos alunos é difícil. Mas tem que ir aos poucos e a pós-graduação é mais nacional. Na graduação as pessoas tendem a se deslocar para lugares mais próximos, já na pós as pessoas migram mais, então estamos competindo com Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, dentre outros estados e esse mercado é um pouco mais complicado.

 

Foto: Seção Técnica de Informática (STI)

Professor Reynaldo Fernandes


Na Newsletter da próxima quarta-feira (17), o professor José Dutra de Oliveira Neto, do Departamento de Contabilidade, falará sobre o futuro do ensino e as ferramentas para a Faculdade continuar crescendo. "Acredito que a FEA-RP poderia investir em um REA [Recurso Educacional Aberto] com sabor local, onde ofereceríamos conhecimentos que atendessem as necessidades mais importantes dos brasileiros", diz ele, que é coordenador do Núcleo de Pesquisa NPT.

Lido 4638 vezes Última modificação em Sexta, 12 Abril 2013 17:01