Quarta, 03 Abril 2013 19:21

Debate: FEA-RP do Futuro

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Nesta semana, a Newsletter inicia um debate com os professores e diretor da Unidade para saber suas opiniões de como será a escola no futuro. O primeiro a fazer suas observações é o diretor Sigismundo Bialoskorski Neto, também professor do Departamento de Contabilidade.


Ele defende que no futuro as disciplinas que vão exigir a presença de alunos e professores na sala de aula são as de análise prática de balanços, estudos de caso, entre outras, deixando assim as teóricas para serem estudadas por meio da internet. "Nosso currículo é pensado e discutido conforme eram os currículos de 20, 30 anos atrás, de outra realidade, e precisa ser repensado", afirma.


Confira a entrevista na íntegra:


No que se refere à didática, o que você acredita que irá mudar na FEA-RP nos próximos 20 anos?
Estamos passando por uma transformação muito importante. Atualmente há uma revolução na área da informação, todos se deliciam com ela, mas poucos estão refletindo o impacto que isso vai ter no ensino. Acho que todas essas disciplinas mais básicas vão ser acessadas pela internet e isso abrirá um mundo completamente diferente. Acho que a escola vai se transformar. Alunos não vão vir na Faculdade e irão estudar de onde quiserem pela internet. Professores não vão precisar estar na escola, já que poderão dar aulas de onde quiserem. Acho que os alunos vão sentir falta de ter discussão, estudos de caso, aulas práticas, treinamento comportamental, treinamento de liderança, treinamento de trabalho em grupo e dinâmicas. A escola então vai ser responsável por trabalhar o capital humano, social e a inteligência emocional do aluno. As disciplinas que vão exigir a presença de alunos e professores são as de análise prática, discussão sobre performances de empresas, estudos de caso, análise de conjuntura econômica, trabalhos em grupos, desenvolvimento de lideranças, etc. Nosso currículo é pensado e discutido conforme eram os de 20, 30 anos atrás. Professores que chegaram hoje estudaram com esse currículo e reproduzem isso agora para os alunos. São poucos os que dão atenção para a prática, tecnologia e desenvolvimento social. Acho que o currículo da escola como um todo tem que ser repensado. Mas tudo isso não tem data para acontecer, pode ser dentro de um, cinco ou dez anos. A velocidade com que a tecnologia mudou nossa vida vai impactar na escola e estamos pouco preparados. Não vejo discussão dos departamentos, professores e alunos sobre isso. Não percebemos que o perfil da escola e da Universidade modificou e que teremos que ser mais modernos no futuro.

 

Quais os impactos que a tecnologia (EAD, capacidade de processamento, comunicação) trará ao ensino e à pesquisa?
Qual é o nosso insumo de pesquisa? Internet e computador. Com isso posso trabalhar e fazer pesquisa de qualquer lugar do mundo. Portanto acho que o conceito da presença do professor na escola para fazer pesquisa na realidade não é mais necessário, a não ser que ele tenha algum tipo de atividade que necessite que esteja aqui. Nossa presença e a do aluno na escola não é mais essencial como no passado. Por outro lado, é essencial para que se tenha a informação do capital social, humano e a inteligência emocional. Acho que hoje o grande problema do EAD para os professores, e falo com a minha experiência nisso, é que exige muito mais dedicação do que a aula presencial. E por causa disso são poucos professores que o usam. Temos tantos compromissos dentro da escola que acabamos sem tempo de nos dedicar às atividades didáticas como deveríamos. Antes eu dava nota para a secretária do departamento passar para os alunos. Hoje tenho que entrar no site, depois no sistema, colocar senha, selecionar a turma, tenho que preencher aluno por aluno. Até o patrimônio ficou tão moderno que é o professor quem faz isso. Tivemos um acúmulo de funções. Para a atividade fim a internet não facilitou e roubou o tempo que o professor tinha. Vivemos mais para a atividade meio do que para a atividade fim. O mundo está se transformando. Falta fazer uma discussão sobre qual é a relação aluno-professor, qual o tipo de currículo, o que teremos que transformar. Hoje o mercado quer um aluno que saiba resolver problemas, que tenha prática, saiba trabalhar em equipe e seja líder, quer um aluno com equilíbrio emocional, que fale línguas.

 

O que você avalia que irá mudar no perfil dos cursos, alunos e docentes dos próximos 20 anos?
Os cursos serão mais práticos, com mais análises e avaliação. As partes teóricas vão ser feitas todas pela internet. O aluno não quer o professor que na graduação estudou o capítulo 4 e fez o mesmo no mestrado e no doutorado e após entrar na USP vai dar aula sobre o capítulo 4. O aluno quer professores que saibam do que está falando por experiência profissional. O outro problema que enfrentamos hoje é o ciclo "eu [professor] dou menos aulas, o aluno assiste menos aulas e fica mais feliz, e por sua vez ele [aluno] avalia melhor" e isso é muito complicado de quebrar.

 

Em que áreas devem ser concentrados esforços para aproximar a FEA-RP uma escola de primeira linha em caráter global?
Já somos uma escola de primeira linha no caráter global. O ensino no Brasil está em desenvolvimento e a USP está entre as melhores do mundo. Nós estamos anos luz na frente de muitas universidades da China, Índia e até mesmo de muitas europeias e norte-americanas. Sem dúvida nenhuma podemos melhorar. A certificação internacional já é um indicativo. Para isso eles exigem o Planejamento Estratégico da Unidade e já temos isso na FEA-RP. Acho que estamos no caminho correto e temos todos os ingredientes para crescer muito. Acho também que estamos avançando muito rápido, até mesmo mais rápido do que a USP, já que, por exemplo,tivemos nosso sistema em nuvem antes mesmo da USP e estamos começando a discutir isso, o futuro do ensino, antes da Universidade. Temos que avaliar nosso egresso, precisamos de áreas de planejamento. A Universidade discute muito a atividade meio e ela fica mais importante do que a atividade fim.

 

Foto: USP Imagens

 

Sigismundo Bialoskorski Neto

 

 

Na semana que vem quem falará sobre o futuro do ensino é o professor Reynaldo Fernandes, do Departamento de Economia. Ele já foi diretor geral da Escola de Administração Fazendária (ESAF) de Brasília e uma de suas áreas de pesquisa é Educação. Na entrevista, ele fala que a interação entre aluno e professor é fundamental. "Essa interação na sala de aula ainda é predominante e os meios a distância não tem superado o ensino tradicional", diz. Confira a entrevista completa na Newsletter da próxima quarta-feira.

Lido 3937 vezes Última modificação em Sexta, 12 Abril 2013 17:02