Segunda, 23 Janeiro 2023 13:37

No mundo empresarial, intuição pode ser eficiente em situações extremas

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Enquanto a reflexão é lenta, analítica e dolorosa, a intuição é veloz, inconsciente e emocional. Ao serem aplicados ao mundo dos negócios, cada um dos dois conceitos pode mudar as práticas de tomada de decisão, de recrutamento e de análise do comportamento do consumidor. Para entender qual funciona melhor em momentos de incertezas profundas, pesquisadores estudaram o papel da intuição e da reflexão e verificaram que, neste caso, agir intuitivamente ofereceu mais vantagens. 

estudo publicado em 2021 foi desenvolvido no doutorado do pesquisador Marlon Alves, integrante do Grupo de Estudos em Inovação e Internacionalização de Empresas (Inint) da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, orientado pela professora da instituição e coordenadora do Inint Simone Galina. A pesquisa contou ainda com a participação de Vicenzo Vastola, professor da Montpellier Business School, na França, e Maurizio Zollo, da Imperial College Business School em Londres, Inglaterra.

Os autores do estudo projetaram um jogo virtual e submeteram à análise 160 gerentes trabalhando com suas equipes. Num primeiro momento, os dirigentes tiveram que desenvolver processos eficientes requisitados pelo jogo; logo após, numa segunda rodada, eles foram obrigados a lidar com novas regras que foram impostas sem aviso prévio. Com a mudança extrema das regras, os processos criados anteriormente já não eram mais úteis e os gerentes tiveram que adaptar suas abordagens e equipes, tomando decisões escolhidas entre a intuição e a reflexão. “De modo geral, o objetivo foi compreender o processamento intuitivo e reflexivo dos executivos quando há mudanças disruptivas e, portanto, a necessidade de inovações para reagir e manter a competitividade”, esclarece a professora Simone.


Encontrando soluções

A orientadora do estudo conta que, após as mudanças impostas pelo jogo, todas as equipes apresentaram queda de desempenho, mas aquelas que usaram a intuição para tomar decisões apresentaram melhor resultado nas quatro dimensões analisadas: flexibilidade, velocidade, rotinização e coordenação. Assim, esclarece Simone:

“Agir intuitivamente, em resumo, significa que a pessoa, de forma inconsciente, usa padrões cognitivos vividos em situações passadas, para uma nova situação presente.”

Ao utilizarem a intuição, as equipes conseguiram abandonar processos anteriores, que não faziam mais sentido, com mais facilidade e encontraram soluções que funcionam para diferentes situações e as utilizaram repetidamente. Além disso, os gestores intuitivos foram mais capazes de coordenar as ações em pares requisitadas nas diferentes rodadas do jogo.

“O estudo mostrou que os gerentes que usam a intuição fazem melhor aproveitamento de conjuntos menores de informações”, diz a professora, ressaltando que naqueles ambientes em que houve mudanças extremas, a atuação intuitiva trouxe mais benefícios para a competitividade das organizações.


Diversidade de capital humano: intuitivos e reflexivos

Outra importante conclusão da pesquisa se refere à gestão do capital humano. A orientadora ressalta que, apesar dos resultados favoráveis à intuição, a reflexão não deve e não pode ser deixada de lado. Manter uma equipe de trabalho com diferentes habilidades cognitivas é essencial para que a corporação consiga reagir rapidamente às necessidades do mercado, seja por meio de decisões intuitivas ou reflexivas. “Quem conseguir fazer isso certamente estará à frente da concorrência”, afirma a pesquisadora.

Além disso, como a intuição depende de experiências antigas e situações experimentadas ao longo da vida, o estudo abre portas para que as empresas visualizem como opção profissionais menos valorizados atualmente no mercado de trabalho. Pessoas idosas, em condições socioeconômicas desprivilegiadas ou com habilidades atípicas podem contribuir de maneira significativa para as empresas através da intuição.

Os resultados do estudo também podem ser vistos a partir da animação abaixo produzida pelos autores.

Mais informações: e-mail svgalina@usp.br




Por: , Jornal da USP

Lido 586 vezes Última modificação em Segunda, 23 Janeiro 2023 14:04