Quarta, 23 Junho 2021 09:43

Como é o acolhimento psicológico na USP

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Quando recebeu o e-mail do Escritório de Saúde Mental da USP (ESM) comunicando sobre a abertura de inscrições, Ana Paula*, 25, preencheu o formulário imediatamente. Matriculada no programa de pós-graduação do Departamento de Cinema da Escola de Comunicações e Artes, a estudante procurou ajuda assim que passou de desmotivada a deprimida. 

 

“Sensação de ansiedade extrema como consequência da sobrecarga de trabalho, do isolamento social, das constantes preocupações e medos causados pela pandemia, assim como a perda de pessoas próximas. A pesquisa acadêmica também parecia perder o sentido, devido ao afastamento do campus universitário e aos ataques constantes às universidades públicas e à ciência”, conta a estudante.

Desde antes da pandemia, o ESM já vinha utilizando um formulário on-line para iniciar o acolhimento psicológico a estudantes interessados. Do ano passado para cá, não apenas os atendimentos são feitos remotamente, como também pesquisas e ações de promoção à saúde mental. 

 

Dentre as modalidades oferecidas, há o acolhimento personalizado, respeitando o sigilo de cada situação, e as rodas de conversa, que têm como foco a abordagem socioemocional, construindo e fortalecendo redes de apoio entre estudantes. Ambas as modalidades utilizam o Google-meet como ferramenta digital para os encontros.

 

"Tem sido de grande importância para eu poder ver as situações em perspectivas diferentes. Poder compartilhar minhas angústias, preocupações e medos com psicólogos da própria universidade é fundamental para seguir o enfrentamento desse momento adverso que estamos passando”

*Ana Paula é um nome fictício para preservar sua identidade

Com José da Luz*, 57, foi diferente. Ele teve contato com o ESM por meio da série de lives Psicologia na tela: contribuições do cinema à saúde mental, promovidas pelo escritório no YouTube. José acompanhou a live sobre o filme Por que você não chora?’, que aborda temas relacionados ao transtorno borderline, ou transtorno de personalidade limítrofe. 

“Eu tenho diagnóstico de borderline desde 2010. Fui admitido no doutorado em junho de 2019. Estou em tratamento psiquiátrico, mas por questões econômicas tive que parar com a terapia desde 2017. Eu no doutorado, com as questões profissionais e familiares, estava em 2020, na pandemia, dando sinais de explosões. As lives foram tão boas e me sinalizaram que eu, da comunidade USP, teria um socorro no ESM”, explica.

*José da Luz é um nome fictício para preservar sua identidade

Afastada das atividades do Centro Acadêmico, depois, das demais atividades coletivas e por fim dos atendimentos psiquiátricos da rede pública, devido ao recrudescimento da pandemia, Juliana*, 24, começou a sentir o peso da solidão, da privação de contato e da ausência de diálogos com maior intensidade. “Isso me levou a procurar o ESM”, diz a estudante da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Ela afirma ter se surpreendido com a resposta do escritório, que rapidamente a colocou em contato com a psicóloga que a atende.

Moradora do Conjunto Residencial da USP (Crusp), a aluna conta que as atuais condições de integração à vida acadêmica somadas à crise sanitária reforçam sentimentos de suscetibilidade, insegurança e solidão entre os estudantes que residem na USP. 

"Se o acolhimento psicológico vier engajado a construir movimentos mais coletivos de reflexão sobre a comunidade acadêmica, as relações internas entre alunos e professores e empenhada em lançar luz sobre como o trato da universidade impacta a subjetividade dos alunos, acredito que a assistência psicológica será grande aliada no fortalecimento dos laços, das identidades, na reconstituição da força e potência dos estudantes. Assim como tem sido para mim”.
*Juliana é um nome fictício para preservar sua identidade

Somente neste ano de 2021, o ESM já atendeu 452 alunos no acolhimento personalizado, 15% deles vindos do Crusp. Também no Crusp, o ESM realizou nove rodas de conversa. Todos os moradores são convidados por e-mail, mas para os coordenadores do escritório a adesão tem sido baixa.

 

Para solicitar o atendimento do ESM, basta escrever para o e-mail escritoriodesaudemental@usp.br ou preencher diretamente o formulário on-line neste link. O Escritório de Saúde Mental disponibiliza três consultas para cada estudante. Para as rodas de conversa, a SAS encaminha os convites aos alunos, sempre indicando duas datas específicas em cada mês. O próximo encontro será no dia 28/06, às 18h.

CATÁLOGO DE SAÚDE MENTAL: ONDE TEM AJUDA?

A Superintendência de Assistência Social (SAS) criou um catálogo dos serviços psicológicos e psiquiátricos disponíveis na USP. O Diretório de Saúde Mental traz um levantamento atualizado dos serviços exclusivos à comunidade universitária e também para a sociedade em geral, em diferentes cidades. O diretório é diverso e contempla diferentes faixas etárias, comunidades indígenas, profissionais e estudantes da área de saúde, além de profissionais que trabalham na linha de frente do combate à covid-19.

 

Gerson Tomanari, superintendente da SAS e professor do Instituto de Psicologia da USP, lembra que “o cuidado com a saúde mental dos alunos é primordial para que eles possam seguir em frente durante a pandemia, mantendo a noção de vínculo com a USP. Nós entendemos que temos condições de minimizar e de propiciar melhores condições de saúde mental, não só para aquelas pessoas que estão em situações mais dramáticas, mas também àquelas que estão passando por algum tipo de sofrimento psicológico”.

SAÚDE PARA ALUNOS, SAÚDE PARA O CRUSP

Símbolo da resistência ao regime autoritário, o Conjunto Residencial da USP (Crusp) é um marco material e imaterial da Universidade. Tendo a maioria de seus alunos realizando estudos a distância durante a pandemia, é no Crusp que ainda se vê estudantes circulando. Elas e eles têm na USP o local de estudo e de moradia.

Reformas, medidas de saúde, segurança, alimentação e inclusão têm sido destinadas ao conjunto residencial, como forma de atender aos alunos moradores. E apesar de contar com serviços de apoio e acolhimento aos estudantes no geral, a SAS ainda não havia criado um plantão específico de atenção à saúde mental dos estudantes que residem no Crusp.

Mas, desde o início do mês de junho, o Plantão Saúde da SAS incorporou dois psicólogos que estão à disposição para atendimento dos moradores do Crusp. O agendamento deve ser feito pelo WhatsApp do Plantão Saúde da SAS: (11) 97154-6880.

“A iniciativa de disponibilizar dois psicólogos do Plantão Saúde da SAS aos moradores do Crusp soma-se aos serviços de atenção à saúde mental oferecidos pela Universidade, ampliando ainda mais as opções de acolhimento aos nossos estudantes”, afirma Tomanari. Para ele, a criação de um canal rápido e imediato de contato com profissionais da saúde constitui uma ação importante na construção de uma política de atenção integral primária de saúde, “especialmente desenhada aos moradores do Crusp”, completa.

“É muito importante procurar ajuda. Trata-se de um gesto de esperança, de que algo pode ser feito para sair de uma situação difícil. Cada aluno tem um potencial de resiliência que, por vezes, está adormecido e a busca de ajuda pode ativar esse potencial. Isto o auxilia a lidar com problemas inerentes à formação humana em meio a uma situação ambiental tão difícil como a pandemia".
(Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, coordenador do Escritório de Saúde Mental da USP)

Por: Tabita Said, Jornal da USP.

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